quarta-feira, 28 de julho de 2010

Velocidade Tecnológica & Velocidade Social

Dispensando-me de ilustrar a actual relevância das redes sociais e o seu potencial futuro, proponho neste texto trazer um pouco de luz sobre esta disrupcão profunda da nossa contemporaneidade, acrescentando alguma reflexão e experiência pessoal, bem como alguns exemplos à promessa que elas constituem uma maior oportunidade para fazer o bem e acelerar a transformação social de um país.

Antes de entrarmos nesta dimensão, penso que é importante referir que a primeira rede social de que tenho registo nasceu em 1987 no seio de uma associação de indianos que trabalhavam em Silicon Valley (SIPA). Esta associação construiu uma plataforma tecnológica para partilhar, com os seus familiares na Índia, o que aprendiam e enviar algum do dinheiro que ganhavam. A necessidade de partilhar, não só o seu saber como enviar remessas para os seus familiares, levou-os a estruturar uma teia tecno-genealógica que permitisse utilizar a capacidade dos familiares visitante dos seus associados para levar divisas para familiares e amigos destes. Foi a necessidade de estruturar redes e construir relações de confiança que se encontrou utilidade nestas redes da diáspora indiana.

Passados 40 anos não é preciso explicar o que isto fez pela cidade de Bangalore e pelo povo indiano. Em 2002 havia já registo de 42 redes sociais da diáspora, mas só em 2002 é que Zuckerberg traz a actividade social para o mundo da redes sociais ao lançar o Facebook no âmbito universitário.

O Mundo mudou, a globalização tribalizou o entendimento de qualquer realidade nacional e revelou que território, povo e língua não se devem confundir mas sim explorar em simbiose e coerência. Ainda hoje quando falamos em redes sociais pensa-se mais em tecnologia mais do que em organização, pensa-se em social em vez de sociedade.

Este é o mundo dos “&”s, um mundo onde as pessoas terão de habituar-se a aprender e a conversar, em vez de saber e discutir. Um espaço onde a verdade absoluta é um mito e onde a verdade relativa cria um ambiente mais inclusivo do que o actual.

A mudança da comunicação, que deixou de ser centrada num emissor para assumir uma lógica de produtor-consumidor é hoje evidente. Assim aquele que consome, interpreta e depois distribui conteúdo veicula de forma muito mais efectiva e impactante a informação acrescentando-lhe interesse e contexto no seu circulo de relações.

A velocidade a que a tecnologia se desenvolve cria uma tensão social e agrava o fosso entre as perspectivas e o poder que existe, depositado entre as últimas gerações e amplia a percepção do que é mau, mais do que é bom.

Embora seja penoso ver o lado triste das redes, que tantas vezes parecem encontrar na solidão a sua melhor cama, existem inúmeros exemplos de como o fenómeno das redes sociais pode beneficiar a humanidade e acelerar o desenvolvimento humano.

Muitos já se terão apercebido da cultura do bem que norteou a fundação do Kiva.org que não só reorganizou os princípios do microcrédito como depois foi “marketizado” pela Virgin Finance, com enorme sucesso.

Existem outros casos de redes que propõem uma dinâmica de mercado à benfeitoria e que permitem organizar o voluntariado, como Volunteer Match.
Também se criaram redes que permitem desenvolver campanhas de angariação de fundos como a Global Giving, enquanto outras servem para o cidadão comum divulgar e ampliar as suas causas favoritas como é o caso do Causecast. Outros casos ainda como o Socialvibe mostram que também as marcas começam a usar os seus consumidores para escolherem a alocação das suas benfeitorias, e que os seus consumidores estão dispostos a fazer um endorsment à marca em contrapartida de uma benfeitoria.

As redes acomodam a cidadania num espaço virtual, e embora já sejam utilizados nas autarquias e nalguns países como o Canadá para estruturar e sondar as prioridades dos cidadãos de forma a melhor servi-los, existem ainda políticos a quem estas redes geram insegurança. A cidadania não destronará a politica, mas reforçará a qualidade da democracia. Como o jornal e a internet estas duas realidades são simbióticas e convergentes.

Acreditando que este fenómeno de cidadania não destronará a politica, mas conviverá com esta influenciando a mudança de paradigma do poder, percebe-se que esta força fará sempre lembrar a quem dirige, que o faz para servir e nunca para se servir.

A tecnologia está a inverter a pirâmide social e a devolver poder ao cidadão comum, mas isto está a ocorrer a uma velocidade que é superior à nossa velocidade social. Vivemos assumidamente na sociedade da informação, mas não obrigatoriamente na sociedade do conhecimento, por isso resta-nos aprender sobre a colaboração e o poder das redes para que possamos ver mais exemplos da utilização positiva das redes do que de promover a ansiedade em relação às suas externalidades negativas.

Como todas as outras, esta é um rede que pode dar muito mais, se estivermos dispostos a aprender e a evoluir na cidadania e no civismo.

Tiago Forjaz

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